O Índice de Preços dos Gastos Familiares (IPGF) variou 0,03% em agosto, abaixo da inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), conforme dados divulgados nesta terça-feira (19/9), pela Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Com esse resultado, o índice acumula taxa de 2,11% no ano e de 2,78% em 12 meses. No mesmo período, o índice oficial de inflação acumula 3,23% no ano e 4,61% em 12 meses.
O IPGF é um novo índice de preços medido pelo FGV Ibre, em que, entre outras características, os pesos da cesta de consumo são atualizados mensalmente, com objetivo de captar melhor as mudanças dos hábitos de consumo das famílias. De acordo com a entidade, essa mudança contribui para que as alterações nas preferências do consumidor sejam captadas com mais agilidade. Em decorrência disso, o IPGF tem acumulado uma inflação menor no longo prazo comparativamente aos índices tradicionais como o IPCA, do do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ou o IPC (do FGV Ibre).
O novo indicador foi apresentado aos jornalistas, hoje, pelos economistas André Braz, superintendente Adjunto para Inflação do FGV Ibre; Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do FGV Ibre; Matheus Souza Peçanha, responsável pela pesquisa; e Roberto Olinto, pesquisador associado do FGV Ibre.
O IPGF é composto por nove grupos: alimentação, habitação, transportes, vestuário, artigos de residência, saúde e cuidados pessoais, educação, comunicação, despesas pessoais e serviços prestados às famílias. São analisados 52 produtos.
De acordo com os analistas, os recentes resultados apontam para "uma sutil reaceleração da inflação interanual", a partir da substituição das leituras negativas de julho a setembro do ano passado, no entanto, o IPGF sugere que essa aceleração é menos acentuada que o indicado pelo IPCA.
Em julho, o IPGF acumulava 2,35% em 12 meses. E, no mesmo período do ano passado, o índice acumulado desacelerou de 10,55%, em julho de 2022, para 9,05%, em agosto do mesmo ano (mais elevado que o IPCA àquela época).
"Passamos por um período da pandemia que mudou o comportamento do consumo das famílias e o IPGF mostrou isso. Ele mostra para onde esse consumo está se deslocando de acordo com a renda e os preços dos produtos", afirmou André Braz. Segundo ele, o futuro do novo índice deve seguir a mesma tendência dos IPCs e a grande incerteza está por cima dos combustíveis, porque a Petrobras fez um reajuste importante na segunda quinzena de agosto. "Isso colocou um equilíbrio parcial dos preços domésticos e os internacionais, porque a diferença está maior porque o barril do tipo Brent que já está em torno de US$ 95", afirmou.
De acordo com Peçanha, pelo histórico do IPGF, o comportamento inflacionário vai ter uma aceleração, mas esse novo indicador mostra que a aceleração é mais suave do que sugere o IPCA". Segundo ele, essa tendência do índice se deve ao fato de que a construção dos pesos, entre outros fatores, possibilita a percepção do chamado “efeito substituição”, pois, quando o consumidor substitui arroz por macarrão ou carne vermelha por carne branca, ou ainda deixa de consumir combustível e passa a usar mais o transporte público devido ao aumento de preços, os itens substituídos perdem peso na cesta de consumo das famílias e seus aumentos de preço passam a comprometer menos o custo de vida e vice-versa. "Assim, no longo prazo, esse efeito acaba gerando um número menor de inflação”, explica.
Historicamente, conforme levantamento de Peçanha, entre fevereiro de 2000 e agosto de 2023, a variação do IPCA foi de 420,72% e do IPGF, de 393,75%.
Contudo, segundo Braz, até o fim do ano, se houver a permanência da tendência de alta dos preços do petróleo, "que tem peso parecido nos dois índices", tanto IPCA quanto o IPGF -- que está dentro da meta --, ambos devem encerrar próximos ou acima do teto da meta de inflação deste ano, de 4,75%, porque a gasolina é um produto essencial e têm um peso rígido nos dois indicadores. "Agora, o peso da alimentação, que foi bastante elevado na pandemia, está menor no IPGF, porque a cesta de consumo diminuiu e os preços também", acrescentou.
"Esse é mais um índice para medirmos a tendência de inflação e tentar compreender e analisar o comportamento dos preços para o cumprimento das metas", adicionou Braz. Segundo ele, o IPGF vai ser atualizado sempre que necessário, porque vai mostrar mais rapidamente a restrição orçamentária dos consumidores. Ele lembrou ainda que o espalhamento da inflação do IPCA vem diminuindo em ambos os indicadores "e isso está sendo mostrado pelo IPGF no nível de inflação que ele está hoje".