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Opinião Quarta-feira, 19 de Novembro de 2025, 11:12 - A | A

Quarta-feira, 19 de Novembro de 2025, 11h:12 - A | A

Kamila Garcia

A imortalidade que habita em nós!

Kamila Garcia
MQF

De vez em quando, a vida nos pára no meio do caminho e sussurra: “Você é finito.” Esse pensamento chega sem pedir licença — no silêncio da noite, num luto inesperado, numa lembrança que volta. Mas a verdade é que, quanto mais observo o viver, mais percebo que a finitude talvez seja um truque dos olhos. Porque, no fundo, carregamos um tipo de imortalidade que não depende do corpo, nem do tempo, apenas do que deixamos nos outros.

A vida muda, gira, se refaz. E é nesse movimento que descobrimos que nada realmente termina — apenas muda de forma. Existem três maneiras silenciosas pelas quais continuamos:

·         Imortalidade da Ideia: ocorre quando um pensamento nosso cria raízes na mente de alguém. Uma frase dita sem pretensão, uma visão de mundo, um gesto que ensina sem alarde.

·         Imortalidade Genética: quando nossa história segue adiante no sangue, nos traços, nos temperamentos que se repetem e se reinventam.

·         Imortalidade Afetiva: a mais profunda de todas — quando permanecemos no coração alheio, mesmo depois que o corpo já não está.

É nessa Imortalidade Afetiva que vive o nosso impacto. Não o impacto grandioso, digno de placas e homenagens, mas o impacto íntimo, aquele que só quem recebeu consegue medir.

É quando um sorriso nosso vira lembrança de força. Quando um conselho atravessa anos e decide destinos. Quando um abraço se mantém na pele, mesmo na ausência.

Somos feitos desses ecos — pequenos gestos que ficam, mesmo quando a presença se vai. Talvez essa seja a forma mais certeira de sobreviver: continuar vivendo dentro de quem tocamos, transformando-se em coragem, ternura ou saudade boa.

Se pensarmos bem, já fomos muita coisa antes de sermos gente. Cada partícula nossa já pertenceu a estrelas, mares, árvores, outros corpos que viveram histórias que nunca saberemos. Nada se perde. Tudo migra. Tudo se transforma.

E, no meio dessa dança cósmica, seguimos deixando marcas. Uma palavra que ilumina alguém. Um gesto que reconcilia um coração. Uma presença que devolve sentido. Somos fios de um tecido enorme. Não se rompem: apenas reaparecem em outros desenhos, outras tramas, outros tempos.

A morte, no fim das contas, é só uma porta que se abre para outro lado. O que fomos — isso sim — fica aqui, espalhado em memórias, aprendizados, afetos e pequenos milagres de humanidade. E é aí que mora a nossa imortalidade: no eco do que sentimos, no bem que deixamos, no amor que plantamos. Porque ninguém desaparece completamente quando permanece dentro de alguém.

*Kamila Garcia é bacharel em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira, com pós-graduação em Psicanálise. Atualmente é estudante de Psicologia.

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, 19 de Novembro de 2025