Em Nossa Senhora do Livramento, a comunidade quilombola Mata Cavalo transformou, nesta semana de celebração ao Dia da Consciência Negra (20 de novembro), a Escola Estadual de Tempo Quilombola Integral Tereza Conceição Arruda em um palco de memória, identidade e reafirmação cultural. Professores, estudantes e famílias se mobilizam para manter vivas as tradições que atravessam gerações e contam a história da própria comunidade.
Filha e neta desse território ancestral, a estudante Eshilley Veloso de Arruda expressa o vínculo que une passado e presente. Ela é neta de Tereza Conceição Arruda, liderança local que lutou pela criação da escola.
“Tenho o privilégio de carregar a cultura da minha avó e tudo que ela deixou aqui. Antes, estudávamos em um barracão de palha, onde chovia mais dentro do que fora. Hoje, tenho orgulho de manter a nossa cultura quilombola dentro da escola”, disse, emocionada.
As atividades preparatórias seguem uma linha que ultrapassa o caráter comemorativo. Nas oficinas e aulas, os estudantes revivem práticas tradicionais, como danças africanas, tranças, artes manuais, ritmos regionais e pinturas quilombolas nos espaços da escola. Cada gesto, ritmo ou cor carrega o compromisso de manter viva a herança coletiva da comunidade.
Para a diretora da unidade, Rosângela da Costa, a data vai muito além do calendário.
“A Consciência Negra simboliza a valorização das vidas que resistiram e construíram a identidade quilombola de Mata Cavalo. É emocionante ver nossos estudantes reconhecendo sua herança e se orgulhando dela. A escola inteira vibra quando eles se dedicam a manter viva a cultura”, afirma.
A escola, de ensino integral, tem currículo totalmente integrado às práticas quilombolas. Além das disciplinas regulares, os estudantes participam de aulas como Prática de Tecnologia Social (PTS), Prática Quilombola Agrícola (PA), Prática Social (PTS), dança afro, siriri, Congo Mirim, horta medicinal e oficinas de produção artesanal sustentável.
Os aprendizados vão da elaboração de peças recicláveis que remetem à cultura quilombola, às técnicas de cavar, plantar e cultivar.
“Quando os estudantes apresentam suas danças, produzem arte, pintam símbolos quilombolas ou fazem tranças, eles não estão apenas aprendendo uma atividade. Estão reafirmando quem são e dizendo ao mundo que a nossa cultura é viva, bonita e resistente”, destaca a diretora.
Como parte da programação, a escola também realizou, na quarta-feira (19), a XII Feira Cultural “Arte que brota da terra: Quilombo e Sustentabilidade”, com exposição de trabalhos produzidos pelos estudantes, comidas típicas, apresentações culturais e demonstrações das práticas aprendidas ao longo do ano.



