As três razões que levaram o presidente americano Donald Trump a retirar as sobretaxas comerciais extraordinárias sobre produtos agropecuários brasileiros foram o aumento da inflação de alimentos nos EUA, queda de popularidade e a firmeza e serenidade das autoridades e empresários brasileiros na condução das negociações.
A ordem executiva (uma espécie de decreto federal) publicada pelo governo americano na última quinta feira (20) retira as sobretaxas de 40% sobre vários produtos como carne bovina, café, castanhas, chás verde, preto, mate, açaí, mandioca, gengibre, banana e frutas frescas.
O reconhecimento de que as negociações entre Brasil e Estados Unidos foram decisivas está estampado no comunicado feito juntamente com a ordem executiva. Nela, o presidente Trump afirma que, no encontro por videoconferência dele com o presidente Lula em 06 de outubro, “...concordamos em iniciar negociações para abordar preocupações identificadas na Ordem Executiva 14.323”. Mais adiante afirma que “...houve um progresso inicial nas negociações com o governo do Brasil”, além de informações técnicas e recomendações adicionais dos seus assessores.
Os negociadores brasileiros, além de evitarem estridências desnecessárias, agiram de forma discreta e integrada com os empresários nacionais e americanos que tiveram seus negócios impactados pelo aumento extraordinário da taxação dos seus produtos.
Diversas missões de empresários brasileiros fizeram incursões junto aos seus pares americanos que abriram várias portas no congresso americano e na Casa Branca. A iniciativa privada brasileira (empresas e suas instituições representativas) contratou estudos especializados com análises e dados que foram importantes no esforço de convencimento dos negociadores americanos mostrando que os Estados Unidos têm superávit na balança comercial com o Brasil e que as medidas aumentariam os custos de produção, elevariam os preços finais e, por conseguinte, pressionariam a inflação doméstica, mexendo com o humor do consumidor-contribuinte americano. Os estudos também demonstraram que as sanções forçariam as empresas brasileiras a explorar novos mercados para exportar seus produtos que já fazem parte dos hábitos de consumo dos americanos e são de difícil substituição, como o café, carnes, suco de laranja, frutas frescas, castanhas de caju, castanhas do Brasil, macadâmia.
Como os economistas e analistas especializados alertaram desde o início, as tarifas extraordinárias impostas por Trump promoveram alta de preços no mercado americano, aumentaram a inflação e trouxeram risco de retração da atividade econômica. A recessão ainda não atormenta a realidade americana. Mas a inflação já bate à porta dos americanos quando vão ao supermercado, especialmente a inflação de alimentos.
A decisão da última quinta feira é um claro reconhecimento de que a política tarifária de Trump impactou os preços internos nos EUA. O próprio texto da ordem executiva admite isso ao afirmar que os assessores técnicos disseram ao presidente que os produtos brasileiros agora retirados da lista não deveriam ter sido sobretaxados.
É da tradição das famílias americanas, que, quando a economia não vai bem, derruba a popularidade do presidente.
A popularidade em baixa pode levar o presidente americano a uma indesejada derrota nas eleições parlamentares de meio de mandato, que acontecerão em novembro de 2026, dificultando sobremaneira a eleição de um sucessor do partido republicano para a Casa Branca.
Há de se reconhecer que ainda existem boas razões para admitir que será longa a jornada até um acordo comercial do Brasil com os Estados Unidos. O recuo da semana passada retirou muitos produtos da lista, mas outros continuam sendo sobretaxados, especialmente bens industriais, de maior valor agregado como café solúvel, pescados, móveis, calçados, aço, máquinas, motores, que representam 22% das exportações brasileiras para os EUA.
O Brasil ainda precisa continuar negociando a derrubada de sobretaxas sobre esses produtos industrializados, livrar-se das acusações de práticas desleais de comércio investigadas pela regra 301 da Lei de Comércio Americana e retirar as injustas sanções financeiras e políticas a autoridades brasileiras.
Mesmo reconhecendo as dificuldades comerciais e diplomáticas à frente, é preciso, ao mesmo tempo, reconhecer os expressivos avanços obtidos desde o mês de agosto, quando começaram as sobretaxas extraordinárias de 40%, que se sobrepuseram às tarifas recíprocas de 10% impostas em abril.
A decisão da semana passada, que retira 250 produtos da lista de sobretaxas, alimenta expectativas que daqui em diante as negociações tomarão ritmo mais célere e otimista, o que favorece os dois países que mantém um longo histórico de 201 anos de respeito mútuo e boas relações comerciais.



