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Juris Quinta-feira, 11 de Setembro de 2025, 12:00 - A | A

Quinta-feira, 11 de Setembro de 2025, 12h:00 - A | A

Leitura institucional

Julgamento do golpe no STF revela três visões distintas de Justiça

Votos de Moraes, Dino e Fux mostram choque entre justiça ativa, garantismo e legalismo formalista diante da ruptura democrática

Roger Perisson - MQF
Brasil

 

Enquanto os votos no julgamento da tentativa de golpe evidenciam divergências jurídicas sobre a culpabilidade de Jair Bolsonaro e aliados, um dado simbólico tem passado despercebido: cada ministro vocalizou, em sua argumentação, uma concepção distinta sobre o papel do Supremo Tribunal Federal em momentos de grave ameaça à democracia.

O relator Alexandre de Moraes, em tom incisivo, adotou uma postura de justiça restauradora e combativa, ancorada na ideia de que o STF deve agir como guardião ativo da Constituição diante de investidas golpistas. Moraes enfatizou que os réus "não apenas cogitaram o golpe, mas colocaram o plano em movimento", e que a punição deve ser exemplar para preservar o pacto democrático.

Na sequência, Flávio Dino, recém-chegado à Corte, alinhou-se à condenação, mas modulou sua fala em uma linha mais garantista, propondo penas mais brandas a três acusados. Seu discurso equilibrou o peso da responsabilização com um alerta sobre “respeito ao devido processo”, demonstrando apreço à contenção judicial — sem abrir mão do repúdio à tentativa de ruptura institucional.

Já o ministro Luiz Fux destoou completamente ao absolver Bolsonaro de todas as acusações, sob o argumento de que “atos preparatórios não constituem crime”. Sua fala adotou um tom técnico, enfatizando a ausência de execução objetiva de um golpe de Estado, numa postura que remete ao legalismo tradicional — ainda que esse formalismo, para muitos juristas, acabe por minimizar a gravidade dos fatos.

Esse descompasso de visões expõe uma fenda interpretativa no STF sobre até onde vai o dever da Corte de proteger a democracia: deve o Supremo apenas julgar provas frias? Ou tem ele o dever histórico de impedir que o país flerte com o autoritarismo, mesmo em estágio de planejamento?

O julgamento, além de suas repercussões penais, passa a ser um espelho institucional sobre como o Brasil lida com ameaças autoritárias: com tecnicismo, com moderação, ou com firmeza corretiva.

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, 15 de Setembro de 2025