facebook instagram youtube whatsapp

Saúde Sexta-feira, 28 de Junho de 2024, 08:30 - A | A

Sexta-feira, 28 de Junho de 2024, 08h:30 - A | A

PESQUISA

Por que a fumaça de maconha não é inofensiva como muitos pensam

Descriminalização da maconha em vários países ou regiões significa que número crescente de pessoas estará propenso a ser exposto à fumaça da cannabis. Mas o quanto essa fumaça, inalada diretamente ou de forma passiva, faz mal?

BBC News
MQF

Embora o uso de tabaco esteja diminuindo entre adultos nos Estados Unidos, o de cannabis está aumentando.

As leis e políticas que regulam o uso de tabaco e cannabis também estão seguindo direções diferentes.

As políticas de tabaco estão se tornando mais restritivas, com proibições de fumar em lugares públicos e limites nas vendas, como proibições estaduais de produtos com sabores.

Em contraste, mais Estados estão legalizando a cannabis para uso médico ou recreativo, e há esforços para permitir exceções para a cannabis nas leis contra o fumo.

No Brasil, o STF esclareceu em junho de 2024 a distinção legal entre usuário e traficante, estabelecendo que a posse de até 40 gramas de maconha não deve ser considerada crime e que o usuário deve apenas receber uma advertência.

Essas mudanças significam que um número crescente de pessoas está propenso a ser exposto à fumaça da cannabis. Mas o quanto essa fumaça da cannabis, inalada diretamente ou de forma passiva, faz mal?

Sou médica de atendimento primário e pesquisadora em um Estado americano onde a cannabis agora é legal para uso médico e recreativo.

Eu e meus colegas estávamos interessados em como as opiniões sobre a segurança da fumaça do tabaco e da cannabis têm mudado durante esse período de crescente uso e comercialização da cannabis.

Em nossa pesquisa com mais de cinco mil adultos nos EUA em 2017, 2020 e 2021, constatamos que as pessoas estão cada vez mais acreditando que a exposição à fumaça da cannabis é mais segura do que a do tabaco.

Em 2017, 26% das pessoas achavam que era mais seguro fumar um baseado de cannabis do que um cigarro diariamente. Em 2021, mais de 44% escolheram a cannabis como a opção mais segura.

As pessoas também eram mais propensas a classificar a fumaça passiva da cannabis como "completamente segura" em comparação com a do tabaco, mesmo para grupos vulneráveis, como crianças e mulheres grávidas.

Apesar dessas opiniões, pesquisas recentes levantam preocupações sobre os efeitos da exposição à fumaça da cannabis na saúde.

As opiniões e a ciência

Décadas de pesquisa e centenas de estudos associaram a fumaça do tabaco a múltiplos tipos de câncer e doenças cardiovasculares.

No entanto, há muito menos estudos sobre os efeitos a longo prazo da fumaça da cannabis. Como a cannabis ainda é ilegal no nível federal, é mais difícil para os cientistas estudá-la.

Tem sido particularmente difícil estudar resultados de saúde que podem levar muito tempo e mais exposição para se desenvolverem.

Revisões recentes da pesquisa sobre a cannabis e o câncer ou doenças cardiovasculares consideraram esses estudos inadequados porque incluíram relativamente poucas pessoas com exposição intensa, não acompanharam as pessoas por tempo suficiente ou não levaram em consideração adequadamente o tabagismo.

Muitos defensores da maconha apontam para a falta de descobertas claras sobre os efeitos negativos da exposição à fumaça da cannabis como prova de que ela seria inofensiva.

No entanto, eu e meus colegas acreditamos que este é um exemplo da famosa citação científica de que "ausência de evidência não é evidência de ausência".

Cientistas identificaram centenas de produtos químicos presentes tanto na fumaça da cannabis quanto na do tabaco, muitos dos quais são carcinogênicos e tóxicos.

A combustão do tabaco e da cannabis, seja por meio do fumo ou de vaporizadores de ervas, também libera partículas que podem ser inaladas profundamente nos pulmões e causar danos aos tecidos.

Estudos em animais sobre os efeitos da fumaça passiva do tabaco e da cannabis mostram efeitos preocupantes semelhantes no sistema cardiovascular, incluindo comprometimento da dilatação dos vasos sanguíneos, aumento da pressão arterial e redução da função cardíaca.

Embora mais pesquisas sejam necessárias para determinar o risco de câncer de pulmão, ataques cardíacos e derrames causados pela fumaça da cannabis, o que já se sabe tem gerado preocupações entre as agências de saúde pública.

Por que as opiniões sobre a cannabis são importantes?

A forma como as pessoas percebem a segurança da cannabis tem implicações importantes para o seu uso e para as políticas públicas.

Pesquisas mostram que as pessoas tendem a usar mais o que acreditam ser menos arriscado.

As opiniões sobre a segurança da cannabis também moldarão as leis de uso médico e recreativo da cannabis e outras políticas, como se a fumaça da cannabis será tratada como a fumaça do tabaco ou se exceções serão feitas nas leis de ambientes livres de fumo.

Parte da complexidade nas decisões sobre o uso da cannabis reside no fato de que, ao contrário do tabaco, ensaios clínicos demonstraram que a cannabis pode ter benefícios em certos contextos.

Isso inclui o manejo de tipos específicos de dor crônica, a redução de náuseas e vômitos associados à quimioterapia e o aumento do apetite e ganho de peso em pessoas com HIV/AIDS.

Vale ressaltar que muitos desses estudos não se basearam na cannabis fumada ou vaporizada.

Infelizmente, embora uma busca na internet sobre maconha retorne milhares de resultados sobre os benefícios para a saúde da cannabis, muitas dessas alegações não são respaldadas pela pesquisa científica.

Eu peço às pessoas que desejam aprender mais sobre os potenciais benefícios e riscos da cannabis que conversem com profissionais de saúde ou busquem fontes que apresentem uma visão imparcial das evidências científicas.

National Center for Complementary and Integrative Health oferece uma boa visão geral dos estudos sobre a cannabis (em inglês) para o tratamento de várias condições médicas, bem como informações sobre os possíveis riscos.

* Este texto foi originalmente publicado em setembro de 2023 e republicado em junho de 2024

*Beth Cohen é professora de Medicina na Universidade da Califórnia, San Francisco

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).

Comente esta notícia

Cuiabá MT, 11 de Outubro de 2024